c(OM)alma
calma a água
fonte de pensar
o traço comum
i
dou-me
ao trabalho
de saber
que para escrever
é necessário
procurar palavras
ii
o passo
seguinte é fazer
a construção do poema
obedecendo
única e exclusivamente
ao prazer da arquitectura
iii
ainda é
com amor
que faço os poemas
é tão importante
o revestimento superficial
como os alicerces!...
iv
os três pilares
do conhecimento
são necessários:
o eu,
o outro,
o traço comum
v
com o terceiro
e último
pilar
olho
para as mãos
e já posso parar para ver...
poiso
a imagem parada
dum pássaro poisado
sublinhada apenas
por um galho, o poiso
nas nuvens
i
a imagem parada
dum pássaro poisado
sublinhada apenas
por um galho, o poiso
ii
observo a nitidez
até eu ficar próximo
o suficiente para
escrever esta cena
iii
a fotografia colorida
tirada com teleobjectiva
tornando próxima
a ave à distância
iv
uma lágrima começou
a escorrer no rosto
acabando por cair
sobre a fotografia
v
a emoção transbordou
como uma gota de água
precipitando-me
ainda mais nas nuvens!
captação
vi
nenhum sentimento
me ocorreu entretanto
apenas segurei
a luva que tinha tirado
vii
na mão esquerda a foto
e na direita a luva
e os olhos continuavam
cheios de lágrimas
viii
mas nada corria
parara, pensei
fechei os olhos
e rolaram quentes...
ix
o que quereria dizer
tudo isto a acontecer?
e não havia resposta
por parte da ave
x
continuava pousada
olhando em frente
ignorando o lado
donde fora captada!
(sobre as coisas
invisíveis do olhar)
invisível olhar
sobre as coisas
invisíveis ao olhar
interrogação
quando acordei
tinha na mão a foto
esquecera tudo,
que tinha acontecido?
corda partida
um filme
desbobinara
com a velocidade
duma corda partida
a desenrolar até
ficar sem energia
a fita metálica
sem impressão alguma
o relógio parado
parara de vez
como uma ave
de súbito abatida
assim
assim chorei
escrevendo
uns versos
só podia
rir-me
de mim...
a
a emoção
será para sempre
a primeira e última
das Belas Artes
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