segunda-feira, março 07, 2005

arquitectura emocional

c(OM)alma
calma a água
fonte de pensar

o traço comum

i

dou-me
ao trabalho
de saber

que para escrever
é necessário
procurar palavras

ii
o passo
seguinte é fazer
a construção do poema

obedecendo
única e exclusivamente
ao prazer da arquitectura

iii
ainda é
com amor
que faço os poemas

é tão importante
o revestimento superficial
como os alicerces!...

iv
os três pilares
do conhecimento
são necessários:

o eu,
o outro,
o traço comum

v
com o terceiro
e último
pilar

olho
para as mãos
e já posso parar para ver...

poiso
a imagem parada
dum pássaro poisado

sublinhada apenas
por um galho, o poiso

nas nuvens

i
a imagem parada
dum pássaro poisado

sublinhada apenas
por um galho, o poiso
ii
observo a nitidez
até eu ficar próximo

o suficiente para
escrever esta cena
iii
a fotografia colorida
tirada com teleobjectiva

tornando próxima
a ave à distância
iv
uma lágrima começou
a escorrer no rosto

acabando por cair
sobre a fotografia
v
a emoção transbordou
como uma gota de água

precipitando-me
ainda mais nas nuvens!

captação

vi
nenhum sentimento
me ocorreu entretanto

apenas segurei
a luva que tinha tirado
vii
na mão esquerda a foto
e na direita a luva

e os olhos continuavam
cheios de lágrimas
viii
mas nada corria
parara, pensei

fechei os olhos
e rolaram quentes...
ix
o que quereria dizer
tudo isto a acontecer?

e não havia resposta
por parte da ave
x
continuava pousada
olhando em frente

ignorando o lado
donde fora captada!

(sobre as coisas
invisíveis do olhar)

invisível olhar
sobre as coisas
invisíveis ao olhar

interrogação
quando acordei
tinha na mão a foto

esquecera tudo,
que tinha acontecido?

corda partida
um filme
desbobinara
com a velocidade
duma corda partida

a desenrolar até
ficar sem energia
a fita metálica
sem impressão alguma

o relógio parado
parara de vez
como uma ave
de súbito abatida

assim
assim chorei
escrevendo
uns versos

só podia
rir-me
de mim...

a
a emoção
será para sempre
a primeira e última
das Belas Artes

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