sexta-feira, dezembro 31, 2004

bom sonhar

Sonho com duas personagens femininas
de novela nenhuma, uma
eu conheço ou reconheço, outra
não. Acordo
e a novela acaba, interrompo
o sonho. É
por isso, tenho pena de não sonhar
mais. É
bom sonhar!

clama calma

Não pode ou deve o poema embalar o leitor
se o poeta quer ser lido devagar de modo

a fazer sentido perceber o poema a ser escrito

para vir entendido como fazendo parte do gesto
onde acompanhamos uma escrita em silêncio

poesia mestiça

À noite sozinho na cama
com saudade por companhia
arrebato-me de amor e fantasia

O poeta acaricia a coxa roliça
tecida de fina pele mestiça
cuja vida sonho reclama

perfil

O cenário mais completo, o teu corpo
inunda os meus olhos de alegria

Não é só o teu perfil, é a magia!

questionando o amor

DO AMOR
Anda o tempo
a cantar
nas ruas
a encantar
as raparigas…

Nuas
por dentro
intensas
como cordas…

Duma viola
que desejo
… tocar

Violar
o Verbo…

Do Amor


SENTIMENTO
Querida,
Compus
um poema
magistral,

emocional,
cantabile
in-tenso

Não me sais
do…

Sentimento


AMOR
Agora ando nisto,
faço poemas
para ti


ESTA QUESTÃO
Quero-te
como um animal
vendo a Primavera
nas tuas formas

Forma-se então
uma contracção
entre mim e ti

mimetismo

Mentiria
se não dissesse ser…

quinta-feira, dezembro 30, 2004

a a e

si-mul-ta-n(e)idades
ou
navegações

a
libido
lamber-te a libido
com a língua dos versos
onde corro vivo

na conta corrente
dos meus desejos soltos

deposito um beijo

b
bar
espaço denso, bar
cheio de fumo e
calor etílico

c
das sombras
a palavra exige
uma ginástica sóbria
com o conhecimento (das sombras)

d
faro(l) de n_avio
a minha cabeça arde
como uma tocha acesa
por uma ideia azul

depois passa a amarela
e deita um fumo negro

quando se apaga o pavio

e
é preciso
muito tesão
para ser
bom poeta

diga-se
o que se disser
ou não se diga

a poesia é
uma mulher

para o homem

para a mulher

o poema
é um homem

diga-se
o que souber
quem for mulher

e consiga
tendo tesão
ser boa
com(o) poeta

provo, com ação

quem me dera poder falar
directamente com a mulher
que vive nos seus versos,
aquela que é quem quer…
=======================
quem me dera poder ser
eu própria, hoje, a mulher,
viva, tal qual nos versos,
aquela que é quem é...
=======================
partilhar o desejo intenso
onde pulsa feita em gozo
aquilo que escrevo a pulso
tornando seu gozo nosso?
========================
permitir que o desejo
um quase gozo, em curso
não me fosse apenas verso,
mas movimento, (im)pulso
========================
trocando um z por dois ss
um de cada um movendo
das imagens pensamento
e dos poemas… só vendo!
========================
trocar a pena pela mão
um como, por um assim
ser mais que sonho, holograma
mais que um talvez, enfim!
========================
deixo deste momento ir
a imagem como um todo
entregue à desconhecida
com a beleza nu corpo!
========================
abandonar-me ao momento
ser imagem, pele, calma
entregue, sem medo, ao tempo
a esculpir-me corpo e alma

========================
“que poema eu escrevi?”
há-de pensar quando ler,
escreveu o que eu senti
ao seguir em seu mover…
========================
que verso hei de escrever
que palavra hei de falar
que gosto hei de sentir
que beijo haverei de dar...
========================
com seu jeito de alinhar
da emoção ao sentimento
seu modo de comunicar
movimento no momento
========================
serei ponto ou serei vírgula,
sensação ou sentimento
serei todo ou serei parte
serei pra sempre ou momento
========================
sei-a capaz de traduzir
em bons poemas eróticos
toda a sua pornografia
onde só deu os tópicos
=======================
quem sabe responderei
ao corpo cheio de paixão
dizendo nas entrelinhas
um sim, mesmo se dissesse não

=======================
deixo a fala aqui fálica
simbólica quanto baste
para que não chegue só
ler a bandeira na haste!
=======================
volto à palavra presente
e outra vez um não-saber
mas presente é qualquer
tempo quando se deseje ser

=======================
simbolismo do símbolo
a assinalar se há vento
e lhe dá fome ao fruto
onde sirvo o sentimento
=======================
redesenho a melodia
mi menor e si maior
um dueto em harmonia,
sem intervalos em dó...

=======================
toda a mulher é gulosa
para ser bem preciosa!!

com arte de tudo dizer
sem nada dizer da arte?

gostava de te seduzir
para me poder traduzir
======================
no final da partitura,
o espetáculo maior:

sem palavra, nota ou fato
nós, a noite, o ato.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

conhecer o devir

A vida não cabe nas palavras
posso eu (lírico) escrever
parafraseando um dizer
cheio de conclusões avaras

A vida além de caber habita
até uma palavra mais nua
que pode ser a silente Lua
quando em luar nos visita

A vida nem precisa poesia
para conceber-se em versos
tão avessos como diversos
entre realidade e fantasia

A vida acaba nas palavras
quando nasce para elas
ou procura coisas belas
varando das ideias às taras

A vida começa nas palavras
pois com elas ela se faz
qual eterno Guerra e Paz
das coisas simples às raras

A vida é isto e muito mais
podendo dispensar palavras
aos mudos e até às araras
é língua de todos os animais

A Vida sempre fala à Morte
podendo ser maior que vida
vivida sem a ambição pedida
ao Homem para viver a sorte

A vida não tem conclusão
para quem lhe inventar
uma história que ao acabar
já prevê uma continuação

A vida é este verso a vir
habitar não uma mas todas
as palavras e suas modas
cujo destino conhece o devir

A vida não caber na palavra
tem de ser ideia entendida
entre o ir e o vir estendida
como espuma em praia clara!

terça-feira, dezembro 28, 2004

na/tal

NA
TAL
data a
25 do 12

Neste dia
com feriado
já a consoada
ficou consumada

e estou feliz!...
Já que… para o ano
haverá + seguramente
infalivelmente adverbial…

e mais
e muito(s) mais
são mais presentes,
todos os dias são natal

para muita gente que nasceu
ou que já nasceu como todos nós
cada um do seu modo todos vieram
− da mesma maneira… ne/ossa tal idade

Arvorei
este poema
fazendo votos
dum Feliz Natal!...

a natural beleza

A beleza natural
dos seus versos

A beleza natural dos seus versos,
a beleza
natural dos seus versos

A beleza natural dos seus
versos

A sua beleza
natural

A natural beleza...

na esplanada

a
Um cão passa,
agacha-se... O dono
agacha-se, apanha a caca

b
o dono é o filho
do dono, parece
examinar a caca

c
o dono pára,
o cão pára,
continuam...

alô... grafia

Chama-o…
para (ela) tomar chá,
(de) dedo espetado no ar!

alografia(s)

i
Vêm
as palavras no tempo

viajamos

ii
Os poemas
são breves momentos

sem fim

iii
A espiral
é uma imagem

viajamos em imagens

aquela calma

Com aquela calma que acalma a alma
sente as minhas mãos acariciando a pele
seguindo o contacto pelo tacto com o papel
escrevendo lentamente, sente “aquela calma”

Como se fosse um sonho embala aqui a alma
seja ela que parte for do todo, sente a tua pele
e o calor do Sol e a praia e o calor neste papel
onde ele lê em pele e papel: rimas de calma…

Cosmos dum equilíbrio ideal e inexistente
a não ser quando parece possível ter a alma
em perfeita sintonia a traduzir-se em calma
e o que se sente não é mais que sentir gente

Comovo-me com a pele das tuas costas
cosmos onde flutuo gestos imersos imensos
como uma onda capaz de atravessar sensos
com a extensão dum só sentido que mostras

“Aquela calma” com que quis um verso!...

segunda-feira, dezembro 27, 2004

provo c'ação

quem me dera poder falar
directamente com a mulher
que vive nos seus versos,
aquela que é quem quer…

partilhar o desejo intenso
onde pulsa feita em gozo
aquilo que escrevo a pulso
tornando seu gozo nosso?

trocando um z por dois ss
um de cada um movendo
das imagens pensamento
e dos poemas… só vendo!

deixo deste momento ir
a imagem como um todo
entregue à desconhecida
com a beleza nu corpo!

“que poema eu escrevi?”
há-de pensar quando ler,
escreveu o que eu senti
ao seguir em seu mover…

com seu jeito de alinhar
da emoção ao sentimento
seu modo de comunicar
movimento no momento

sei-a capaz de traduzir
em bons poemas eróticos
toda a sua pornografia
onde só deu os tópicos

deixo a fala aqui fálica
simbólica quanto baste
para que não chegue só
ler a bandeira na haste!

simbolismo do símbolo
a assinalar se há vento
e lhe dá fome ao fruto
onde sirvo o sentimento

toda a mulher é gulosa
para ser bem preciosa!!

com arte de tudo dizer
sem nada dizer da arte?

gostava de te seduzir
para me poder traduzir

haikais

Vê natureza
procuro nas palavras
ar e respirar


São versos lindos
aqueles que acordam
alegres vivos


Escura a noite
clareia pirilampos
luz pelos campos


Procurando-a
olho toda a volta
que dou em redor


Iluminados
somos na madrugada
o Sol que sobe


Sob o Sol vindo
ergue-se agora dia
por força da luz


E observo
a cor nas borboletas
acordada é


Do chão o cheiro
é a fala da Terra
com os sentidos


As nuvens surgem
manchando céu de branco
nesta pintura


Como pássaros
poisam palavras agora
os versos finais

é Na(!)tal

Filha,

A poesia
tem de ser
sem tempo
e não deve
ter uma idade

mas tem dias,
momentos, datas
em que é infalível
saber que é saudade

e tem o teu nome
gravado na memória
mais interior ao corpo

como antes de nascer,
talvez até estas palavras

A poesia quero-a bênção!

domingo, dezembro 26, 2004

poema

Põe, mas…
lê no poema
a prosa da Rosa!

Disseca-o para o regar
sem nunca o deixar secar!

Poema sentido, todos os sentidos!...