segunda-feira, janeiro 31, 2005

“ouvinte”

A palavra serve para isto mesmo,
prender o ouvinte ou aquele que vem
pelo olhar das letras escritas, só

ou vinte ao mesmo tempo, mais!?
Há espaço sem fim para a presença
das palavras tentando prender o leitor!

Todas são só uma, cada uma e todas.

sábado, janeiro 29, 2005

c(A)rente projecto

“eu queria dizer
que a metáfora da música brasileira
na globalização efetiva
dos carentes objetos da sinergia
fizeram a pluralização chegar
aos ouvidos eternos da geografia
assimétrica da melodia”
(Gilberto Gil - Ministro da Cultura)

e que todo o poema
sendo como letra de melodia
deve ter um coração
vadio e sereno ou ainda
o completo contrário
(para poder servir do avesso)

é secundário dizer
como correr por gosto
não é para cansar
(a verdade é um depois...)

em tudo é preciso inspiração!
(c
arente com A de...)

quinta-feira, janeiro 27, 2005

nada actual

nada é mais exacto que um acto,
nada devia ser mais actual,
nada no entanto fica,
nada que já é,
nada.

metodologia

i
pego naquilo que resta
e chega
não sei se para tudo

para isto chega

a palavra a erguer-se
para poder andar

ii
isto chega para...

iii
não sei ao certo
para que chega isto

iv
a certeza
nunca a uso
toda de uma vez

v
sou metódico até este ponto

quarta-feira, janeiro 26, 2005

leitura colectiva

não te esqueças de mim,
dir-te-ei todos os dias estas palavras
em todos os dias que queiras
procurá-las na tua imaginação

primeiro aqui fora onde escrevi
depois dentro de ti onde as gravas
nossas por completo agora e logo

minhas e tuas como de toda a gente
que conosco queira partilhá-las

num infinito verso da leitura colectiva

soneto CXXX

a Shakespeare

Os olhos de meu amor são solares,
mais rubros que o coral seus lábios,
se branca é a neve Luz a sua pele,
sua cabeleira é trama de encantos

Descrever seu rosto tem o infinito
encanto de vir descrever a Noite
e dar-lhe apenas um brilho finito
sem poder dizer quanto aí acoite

Ouvi-la é sentir a voz em Música
podendo sentir da língua a poesia
seguindo a sua modelação única
inimitáveis seus sons em alegria

Quanto ela diz só não dá cantiga
a distraído ouvido que não a siga


*

Soneto CXXX
Não tem olhos solares meu amor;
Mais rubro que seus lábios é o coral;
Se neve é branca, é escura a sua cor;
E a cabeleira ao arame é igual.

Vermelha e branca é a rosa adamascada
Mas tal rosa sua face não iguala;
E há fragrância bem mais delicada
Do que a do ar que minha amante exala.

Muito gosto de ouvi-la, mesmo quando
Na música há melhor diapasão;
Nunca vi uma deusa deslisando
Mas minha amada caminha no chão.

Mas juro que esse amor me é mais caro
Que qualquer outra à qual eu a comparo.



William Shakespeare
em
POEMAS DE AMOR
na
tradução
de
Barbara Heliodora

segunda-feira, janeiro 24, 2005

metafísica

É tudo isso amiga
e também os versos
a parte física disto
que é a metafísica...

Há filosofia vindo
onde a poesia vai
explorar o destino

O sentido de estar
tendo significado

Este ficar calado!...


sexta-feira, janeiro 21, 2005

o ovo magnifico

agora vou ficar em silêncio,
deixar que tudo aconteça sem tempo

esperar apenas
debaixo destas penas

chocar o ovo magnifico
dum novo poema

imaginá-lo, capaz de me suceder
até a eternidade cometer algum crime

sobre as pétalas

nuances

1
hei-de dizer
a mim mesmo
que me cale

quero ouvir
que estou surdo

e que quero?...

2
apanho assim
insólitos
soltos

colecciono-os
sem nexo

por ordem

3
apercebo-me
perfeitamente
das nuances

é com elas
que caminho

sobre as pétalas

quinta-feira, janeiro 20, 2005

o encontro das águas

Aos poucos começo a saber melhor o que é saudade,
uma palavra pouca para tão grande extensão
sobre a distância que tenho a vencer
percorrendo a pele dos dias
à espera chegues
até poder
ser
o
encontrar das águas esta foz às nossas vozes, amar
percorrendo a hipotenusa feita como hipótese
e não desistir vencer toda a distância
só porque ela se pode impor
na matéria ausente
da presença
onde
é
possível entre nós o encontro das águas nascentes...

segunda-feira, janeiro 17, 2005

fundido

1
a cavalgar
teu corpo

mergulho
a sensação

2
espuma
o prazer

3
onde a língua
lambe os lábios

as bordas do poema
incham do teu grito!

domingo, janeiro 16, 2005

na espuma dos versos

I
REBENTAÇÃO
na espuma dos versos

entregar
as palavras
ao som
das dizer
a cantar

é fazer
os versos
que se vêm
nascer

frutos
dum quente
dizer

onde andam
as ondas

o mar

II
TONAL_IDADE

na espuma dos versos
se enquadram os sons,
diferentes em diversos
búzios, diferentes tons

caminho

percorre-me
uma gota de água
até se esgotar

já não é gota
e sim caminho

de súbita frescura

sexta-feira, janeiro 14, 2005

saudade

vêns
porque as palavras
chegam

e trazem
o murmúrio
das fontes mais intimas

e
a sede
aumenta cada dia

saciando-se
apenas
de

saudades...

quarta-feira, janeiro 12, 2005

é


quando
tudo
é

ínicio e fim

fadista do silêncio

Fecho os olhos e escuto
a vida a pulsar ritmada
pelo bater que executo
mesmo assim sem pensar nada

a não ser este ritmo
primordial ao Universo
ao qual dou algoritmo
e a alforria em verso

sons para um soneto formo
nesta composição do canto
onde o silêncio transformo

apenas me mudo expressão
dando rosto ao meu espanto
do silêncio, eu, faço canção!

terça-feira, janeiro 11, 2005

razão

Toda a gente lê razões,
qual a razão de ser
para estas razões
inúmeras enumeradas
por todas as razões?!
Haverá razão possível?

minha árvore

minha árvore
é mais alta
que as estrelas
porque as tapa

ergue-se
crescendo
aprofundando
suas raízes

procura
ver amor
... mais alto
que as estrelas...

minha árvore
tenta chegar
até junto
a... (o sonho!)

* mas é sob *
* as estrelas *
* seu corpo *
* de folhas... *

segunda-feira, janeiro 10, 2005

par_a ler

em espirito
dispo o rito
e dele dou
à cena acto

até o corpo
ler o poema
por inteiro

erguido fala
do dizer de

prazer feito!

entre

(1) um e outro
(entre) no poema e...

finalmente
apenas no final
a mente, uma ideia
somente do que seja
ser gente, decidiu:

se eu não sou
eu sem ser corpo,
eu quero ser
o teu corpo,
passas a ser...

e não conseguiu
decidir nada,
pois nada havia
a dividir, entre
um e outro


(2) retórica elíptica

a beleza do poema
está no seu equilíbrio
ser feito na leitura
de qualquer leitor

equilíbrio instável
e futuro imprescindível
esquece o presente

onde está assente
na pessoa inicial
capaz de conceber
esta retórica elíptica


(3) a poesia ser

i
deixemos a poesia ser
o que é

o que é?
como podemos escrever
sem pensar?

não há resposta perfeita

ii
um Não, um Sim
são irrelevantes assim
simplesmente Sim
ou Não que seja

iii
a conclusão
deve sempre decidir
que o ser possível

é sempre esta
realidade

a ser o que é

iv
o poema
é a identidade
do poeta

o vime
de que é feita
a cesta

se foi
esse o material
que a fez

v
veremos
ermos termos
no dizer concebível
como inconcebível

se o poema fosse
do poeta que foi
e o deixou ficar
estranho seria

e assim é

domingo, janeiro 09, 2005

sub_ir

1
na vida no amor

como em tudo na vida
o mais importante no amor
é o tempo (esta música)
que se a-b-re_abre
de nós

na vida, no amor

2
etapes
poesia(s)

i
poderá um homem
dedicar a mesma Rosa
a duas mulheres?

só na realidade
tu és quem queres!

esse é o sonho…

ii
Rosa,
do génio
ao animal

o homem
é o mesmo,
por sinal…!

é
Assim
Mesmo

iii
a vida
é assim feita
de diferentes
etapas

amo-te
hoje por hoje
e agora para sempre

levas-me
a (sub)ir até ao Céu

trazes-me contigo!

3
pensando em ti

vc é quem quer,
você é apenas…
uma mulher!

tem o sonho
para dar

meu sonho!!

4
meu lado

o meu amor
não dorme
na mesma cama
que eu

porque eu quero
poder
dormir descansado

enquanto durmo
tenho sempre o sonho

a meu lado

5
meu amor

a nossa cama
é onde nos fazemos

Amor

sábado, janeiro 08, 2005

cul_to: cultura


Dó,
mia...

o
anti-
-natural

é
então
um gozo

cul_t_oral!?

dizeres

i
diz(es)
o teu pau enfiado
no meu rabo
e os teus
beijos

no meu pescoço
matam-me
de gozo

enchem-me
toda...

até à boca!...

ii
dizer(es)
é indecente dar a ler esta poesia
despida de pudor e preconceito
onde o prazer vive por direito
amor amante de ternas melodias

falas das tuas falas cumpiscuas
felonias fundas bem fecundas
das satisfações mais imundas
donde nascem as palavras nuas

iii
diz(end)

dizendo
de todas as fontes
onde lego e lavo em lava
o amor ardente que me abrasa
feito da alma que nos corpos casa


TEATRO (no acto, depois)
- E tu como é que estás?
- Feliz e contente, depois de te ter enrabado, fodido e amado!
[h-ouve(s)-me poisando a cabeça no meu peito, enquanto a minha amiga respira, consolada]

sexta-feira, janeiro 07, 2005

odes

ode sin_cr_ética
o(n)de a coisa nenhuma
que me faz lembrar de ti?

da raiz ao pensamento
fruto sem esquecimento

ode sim_ét_r_ica
da raiz ao pensamento
fruto sem esquecimento

ai (d)eus quem me atura
com estas saudades de ti?

ai lamurias

Haverá sempre alguma coisa para poder fazer
quando depende de nós fazer alguma coisa...

Isto é tão incerto como isto, ao (in)certo!...

quinta-feira, janeiro 06, 2005

(in)completo

quero
ler cada
uma destas
palavras soltas
como um momento
único, completo e sublime
onde posso apontar
soltas palavras
...

criar

criar um momento e ter... e-ter-n-idade
a começar aqui e agora....

o canto sobe, ergue-se, acorda,
luz a reflectir-se em cor

à música que se faz
com a poesia

poema
letra

começada com o canto, até...
ferirmos o momento para a eternidade!

baloiço

Não, senhora
não são flores...

Inclino-me perante
o brilho de seus olhos

Um corpo perfumado
estendido, entendido...

Que(m) me dá haver palavras
para viver com o sonho!?...

Poiso na Poesia, baloiço

quarta-feira, janeiro 05, 2005

germinar

gerar, germinar...

gostaria esgotar este espaço da palavra
aberto ao devaneio
sou, quero ser

não sei se (a)percebes mas é
tão belo encontrar a plenitude

basta deixar a(s) semente(s) continuar

terça-feira, janeiro 04, 2005

ser

eu, eles
os tempos e eu
trabalhando na gramática
do ser (tempo)

o Presente do Indicativo
com o Pretérito-mais-que-perfeito
sou, foram
fui, são

Pretérito Imperfeito do Indicativo
com o Pretérito Mais-que-Perfeito do Indicativo
era, foram
fora, eram

Futuro do Indicativo
com o Condicional
serei, seriam
seria, serão

Presente do Conjuntivo
com o Imperfeito do Conjuntivo
seja, fossem
fosse, sejam

Futuro do Conjuntivo
com o Infinitivo Pessoal
for, serem
ser, forem

Imperativo
com o Gerúndio
sê, sendo
sendo, sejam

Particípio Passado
sido

Todos os tempos
e todas as pessoas

Presente do Indicativo
sou és é somos sois são

Pretérito-mais-que-perfeito
fui foste foi fomos fostes foram

Futuro do Indicativo
era eras era éramos éreis eram

Condicional
seria serias seria seríamos seríeis seriam

Presente do Conjuntivo
seja sejas seja sejamos sejais sejam

Imperfeito do Conjuntivo
fosse fosses fosse fôssemos fôsseis fossem

Futuro do Conjuntivo
for fores for formos fordes forem

Imperativo
for fores for formos fordes forem

Gerúndio
sendo

Particípio Passado
sido

sendo, sido...

Sendo eu
e tendo sido
eu e os tempos todos

aposto

i
aposto
que tens segredos
dormindo com a Lua

podendo, acredito,
dizer

“a palavra íntima”

ii
hoje
não me peço
para acreditar em nada

acredito, podendo,
fazer

“um pensamento”

iii
choro
como Madalena
arrependida

por ter pecado
sem pensar

a claridade

iv
hoje
em dia
só os milagres

interessam, pouco,
de verdade

aos poucos

v

vou eu
mais uma vez

dizer uma coisa
esquecida

a memória

vi
quando
ao nascer
passamos a existir

deixou de haver
segredos

chegamos à luz!

vii
as letras dos números
fazem parte da escrita
o poema assim escrito

viii
ama-me só
quando souberes
porque nos amamos

ix
não há
um dossier
secreto do caso

apenas falta
o zero

antes do um
(e re-contar o infinito!)

x
aqui
neste lugar
cativo dos versos

fica contudo
história

antes da escrita

amor adulto

a vida não é literatura
alia pura

o literário à aventura
para ser
uma aventura literal

quando amor adulto
vai e vem
ama em quem amas

na aliança
dos dedos dando-se...

versos brancos

a mais perfeita descrição azul
poderia ser um sonho do mar
tentando olhar-se das nuvens

essa descrição permitiria criar
versos livres perfeitos como ondas
escrevendo sobre uma praia nua

o dia calmo num vagar vazio
da estranha certeza das horas
querendo reter o momento

apenas falar duma presença
de muitas tonalidades variando
as mais diversas perspectivas

domingo, janeiro 02, 2005

com_vivência_s

Há coisas que duram,
estar vivo é uma delas.
Quanto à poesia,
não existe sem vida.
Se é bom fazer poemas?
Não hesite, experimente!



abraço d'alma

abraço

antes do abraço
há um gesto
interior
da emoção

é aqui
que nasce
a canção

do poema
sem versos

onde nasce(s)


d’ alma

«uma vela enfunada»
aproxima-se
vinda do nada
onde nada
é tudo

e
contudo
abraçar a alma
é abri-la e deixá-la
ao vento

elementar elemento
feito e-feito e emoção

sábado, janeiro 01, 2005

garantido

mesmo com garra

se esgotássemos todas as palavras
num só dia
ficaríamos com o silêncio
como garantia

mas descobri, há uma impossibilidade
prática que torna isto
impraticável

à menor hesitação calamo-nos
e acaba o silêncio

deixamos de poder imaginar

a palavra (o) silêncio

aceito/e

sigo tua pista
sou pássaro
procurando
a(l)pista…

cor_rente

palavras entregues
ao desconhecido
rumo das correntes

aqui deixo a poesia
depois da escrever

e continuar a ler…

teu/eu

não há como não
sentir saudades
do ano que passou

guardar a memória
e levá-la lavada
escorrendo

a cabeleira juba
não se enxuga
sai-me da cabeça

minha memória
desejarei tocá-la
como teus cabelos

palpite

não te esqueces
de me dizer
que sou teu…

nem precisas
fazer palavras
que o digam

tudo em ti
fala de mim

certeza

o ano que passou
não morreu

está tão vivo
como tu e eu

ano novo

alegra-me cantar
o tempo